A chuva caía em lençóis pesados e inclinados, encharcando a terra vermelha até que ela sangrasse em veias lamacentas através do cemitério. Eileen Nez permanecia imóvel em seu vestido preto, ensopada até a pele, segurando seu filho mais novo contra o quadril. Seus outros três filhos se aglomeravam perto dela, com as mãos pequenas agarrando a bainha de seu casaco como se tentassem ancorá-la ao chão.

Tomasito, com apenas quatro anos, enterrou o rosto no pescoço dela e choramingou enquanto o vento uivava através dos pinheiros piñon esparsos. O som da voz do padre se perdia nas rajadas de vento, mas Eileen não precisava ouvir as palavras. Ela sabia o que significavam. Cinzas às cinzas, pó ao pó. Seu marido, Thomas, se fora — baixado ao solo que o criara, sob céus que já não pareciam os mesmos.

Seus olhos não deixaram o caixão, mesmo quando a primeira pá de terra bateu na tampa com uma finalidade oca que fez seus joelhos cederem. Ela só se manteve de pé porque Tisa, a mais velha, agarrava seu braço com força. Dez anos de idade e já se preparando para o impacto de um mundo sem o pai.

Do outro lado da cova aberta estava a família de Thomas: seus pais, Isaac e Rosa Nez, e seu primo, Julian. Eles estavam vestidos com um preto impecável, parecendo que o luto lhes vinha facilmente — uma performance, em vez de um sentimento. Não havia dor nos olhos de Rosa, nem piedade. Apenas algo frio e ilegível. Isaac olhava através de Eileen como se ela não estivesse lá. Julian nem se deu ao trabalho de esconder seu desdém; seus olhos deslizaram sobre as crianças e pousaram nela como se ela fosse uma convidada indesejada no funeral do próprio marido.

Eileen olhou para Tomasito, que ficara quieto, com os olhos arregalados e desfocados. Ela depositou um beijo em seu cabelo úmido. — Está tudo bem, querido. Está tudo bem.

Mas ela sabia que não estava. Nem de longe.

Quando o serviço terminou, a multidão começou a se dispersar, murmurando condolências com vozes suavizadas pela pena. Eileen murmurava agradecimentos, entorpecida e semi-consciente, enquanto mãos batiam em seu ombro. Mas nenhuma daquelas mãos pertencia aos pais de Thomas. Quando o cemitério finalmente esvaziou, ela ficou para trás, parada sobre o monte fresco de terra vermelha.

— Mãe — Tisa puxou suavemente sua manga. — Os gêmeos estão com frio.

Eileen assentiu, saindo do transe. Ela ergueu Tomasito mais alto e conduziu seus filhos de volta para a van. Seus sapatos estavam cobertos de argila, e o para-brisas do velho Dodge embaçou instantaneamente quando ela ligou o motor. Ela não ligou o aquecedor. Apenas ficou sentada ali, vendo a chuva correr pelo vidro, ouvindo o choro contido de seus filhos no banco de trás. Sua casa ficava a apenas dez minutos de distância, mas pareceram horas até que ela engatasse a marcha e partisse.

Eles voltaram para a velha casa de adobe que Thomas passara seis anos reformando com as próprias mãos. Ele mesmo a pintara, refizera a cozinha com madeira recuperada e até construíra um balanço sob a árvore de algaroba nos fundos. Não era chique, mas era deles.

Ela fechou a porta contra a tempestade, tirando os casacos molhados e pendurando-os nos ganchos. A casa cheirava a madeira úmida e lavanda — o cheiro dos sachês que a avó de Thomas costumava fazer. Eileen trocou as roupas das crianças por outras secas, preparou sanduíches de manteiga de amendoim e pão frito, e beijou suas testas enquanto se acomodavam no sofá em um emaranhado de cobertores.

Só quando as crianças adormeceram, com suas respirações suaves preenchendo a sala, é que ela se permitiu sentar à mesa da cozinha com uma xícara de café preto e sua dor. Ela não chorou. Não podia se dar a esse luxo. Havia contas na geladeira e nenhum pagamento chegando. A construtora ligara dois dias depois da morte de Thomas. Sentiam muito, disseram, mas ele não era tecnicamente funcionário em tempo integral. Sem benefício por morte. Sem pensão.

Eileen olhou para a chama azul sob a chaleira, vendo-a distorcer as sombras ao longo da parede de estuque. Como ela deveria manter quatro crianças alimentadas? Quanto tempo até que as contas os engolissem por inteiro?

Uma batida pesada soou na porta.

Eileen congelou. Passava das nove da noite. Ninguém vinha ali sem ser convidado àquela hora. Ela se levantou, apertou o cinto do roupão e abriu a porta apenas o suficiente para ver.

Era Rosa Nez. Atrás dela estava Isaac, sua estrutura larga avultando na fraca luz da varanda, e Julian, cuja boca se contorcia com algo parecido com desprezo.

— Podemos entrar? — perguntou Rosa.

“Não foi uma pergunta”, pensou Eileen, mas ela deu um passo para o lado.

Lama grudava nos sapatos caros de Rosa enquanto ela entrava sem tirá-los, deixando pegadas molhadas no piso que Thomas havia assentado. Isaac permaneceu em silêncio, seu olhar varrendo a sala como se estivesse fazendo um inventário. Julian ficou logo na entrada, de braços cruzados.

— Não vamos demorar — disse Rosa, com a voz cortante, os olhos se desviando para a sala de estar onde as crianças dormiam. — Só viemos esclarecer algumas coisas sobre a casa.

O estômago de Eileen se revirou. — Esclarecer?

Isaac pigarreou. — Thomas nunca protocolou a transferência da escritura. Esta casa ainda pertence ao fundo da família Nez. Legalmente.

— Do que vocês estão falando? — sussurrou Eileen, embora um pavor frio já estivesse se instalando em seu estômago. — Ele prometeu resolver isso. Ele disse que estava feito.

— Nunca foi finalizado — disse Rosa suavemente. — Um descuido, claro. Mas com Thomas morto, a propriedade retorna para nós.

Eileen olhou para ela, piscando rapidamente. — Vocês estão… vocês estão nos expulsando?

— Não seja dramática — disse Julian. — Você tem uma semana. É mais do que justo.

— Uma semana? — Sua voz falhou, subindo o tom. — Para onde devo ir com quatro crianças? Não tenho dinheiro, não tenho para onde ir…

— Isso não é problema nosso — cortou Rosa. — A terra está na nossa família há três gerações. Não vamos deixar passar para forasteiros.

Eileen recuou como se tivesse levado um tapa. Forasteira. Ela fora esposa de Thomas por doze anos. Era a mãe dos filhos dele. Mas para eles, porque ela não era Navajo de sangue puro, porque vinha de uma família pobre, ela sempre fora uma intrusa.

Tisa se mexeu na sala de estar. Eileen rezou para que ela não tivesse ouvido.

— Terminamos aqui — disse Isaac, com o tom definitivo.

Eles saíram tão rápido quanto chegaram. Nenhum olhar para os netos. Nenhum adeus. Apenas o baque suave da porta de tela atrás deles.

Eileen ficou na cozinha, com o peito vazio, a chaleira ainda chiando no fogão. Atrás dela, Tisa sussurrou: — Mãe? Estamos perdendo nossa casa?

Eileen não se virou. Sua mão tremia enquanto ela desligava a chama. — Ainda não, querida.

Mas, no fundo, ela sabia que já a tinham perdido.

A mudança aconteceu quatro dias depois.

Eileen passara esses dias num frenesi. Ligou para a habitação tribal — lista de espera de seis meses. Verificou apartamentos — muito caros. Finalmente, Jojo Yazzy, o melhor amigo de infância de Thomas, ajudou.

— Conheço um cara com um lugar perto do posto de gasolina na Rodovia 491 — disse Jojo, encostado em sua caminhonete, com o rosto marcado pela preocupação. — É um barraco, Eileen. Não é grande coisa. Mas é barato.

— Eu aceito — disse ela.

Na última noite de empacotamento, Eileen estava no sótão, com o feixe da lanterna cortando a poeira. Ela estava limpando as últimas coisas de Thomas quando avistou algo enfiado atrás de uma pilha de velhas decorações de Natal: uma caixa estreita de cedro, gasta nas bordas, com as iniciais I.Y. entalhadas na tampa.

Inez Yazzy. A avó de Thomas.

Eileen lembrava-se dela vagamente — olhos agudos, mãos fortes, sempre cantarolando velhas canções em Diné. Ela falecera quando Tisa era pequena. Thomas herdara algumas bugigangas, mas Eileen nunca tinha visto aquela caixa.

Ela a levou para baixo. Era pesada, selada com uma fechadura de ferro enferrujada. Não havia chave.

— Posso abrir? — perguntou Tisa, observando do corredor.

— Está trancada, querida. Provavelmente são apenas papéis velhos.

— Podemos ficar com ela?

Eileen passou o polegar sobre a madeira. Parecia quente, quase vibrando. — Sim — disse ela suavemente. — Vamos ficar com ela.

Ela prendeu a caixa no último caixote, entre uma colcha dobrada e um par de botas de inverno.

A viagem para a nova casa foi silenciosa. A “casa” que Jojo encontrou era uma estrutura azul descascada que pendia levemente para a esquerda. O vento assobiava através das frestas no revestimento, e o interior cheirava a naftalina e mofo. Havia um quarto, uma cozinha combinada com sala de estar e um banheiro com azulejos rachados.

— É feio — disse Keon, um dos gêmeos, honestamente.

— É nosso — respondeu Eileen, forçando uma alegria que não sentia.

Naquela primeira noite, a temperatura caiu. O aquecedor portátil que Jojo lhes emprestara chacoalhava e zumbia, mal cortando o frio. Eileen não dormiu. Ela ficou sentada na cozinha, encarando a caixa de cedro no balcão.

Por volta das 2 da manhã, ela se levantou para fazer chá. Em sua exaustão, esbarrou no balcão, e a caixa tombou, batendo no chão com um baque pesado.

A fechadura enferrujada quebrou-se limpamente em duas.

Eileen congelou, esperando que as crianças acordassem, mas elas apenas se mexeram em seus sacos de dormir. Lentamente, ela se ajoelhou e levantou a tampa.

Dentro havia uma pilha de papéis amarelados amarrados com uma fita verde desbotada, e repousando no topo estava uma pequena chave de latão. Debaixo da chave havia uma carta em papel creme. A caligrafia era firme e deliberada.

Meu Querido Thomas,

Se você está lendo isto, então eu fui para os ancestrais. Você conhece a história da família. Você conhece a ganância que apodrece as raízes da nossa árvore. Esta caixa contém a verdade que escondi deles.

A terra em Red Rock — os 6.000 acres que eles pensam ser estéreis — não é. O levantamento de 1982 foi falsificado. Eu guardei o verdadeiro. Há petróleo, neto. E minerais. Mas, mais importante, é o nosso lar. Coloquei a escritura e os direitos minerais em um fundo, nomeando você como o único beneficiário. Se você se for, passa para sua esposa, Eileen. Ela tem o coração para protegê-lo.

Não deixe que eles tomem isso.

— Inez

Eileen leu a carta três vezes. Suas mãos tremiam tanto que ela teve que pousar o papel. Ela pegou o maço de documentos. Escrituras. Certificados de fundo. Levantamentos geológicos. E um comprovante de depósito bancário para um cofre em Gallup.

Ela não estava segurando apenas papel. Ela segurava um futuro.

A batalha começou dois dias depois no Banco First Pueblo.

Quando o gerente do banco, Sr. Morales, percebeu o que Eileen lhe trouxera — a chave, o fundo autenticado, a escritura original —, ele ficou pálido. Ele a conduziu a um cofre privado.

— Sra. Nez — disse ele, com a voz sussurrada. — Você tem alguma ideia do que isto representa?

— Acho que sim — disse ela.

— Só os direitos minerais… a avaliação está na casa das centenas de milhões. Este fundo tem estado aqui, acumulando juros e valor, trancado por vinte anos.

Eileen sentiu a sala girar. Centenas de milhões.

— Mas — continuou Morales — a família Nez controla a propriedade vizinha. Quando descobrirem isso — e descobrirão, assim que registrarmos a transferência —, eles vão contestar.

— Eles nos expulsaram de nossa casa — disse Eileen, com a voz endurecendo. — Deixaram meus filhos dormindo no chão de um barraco. Deixe que contestem.

Morales assentiu. — Conheço um advogado. Benally. Ele está aposentado, mas conhecia Inez. Vá até ele.

Quando a intimação chegou, uma semana depois, foi feio. Espólio da Família Nez v. Eileen Yazzie Nez. Eles estavam processando pela custódia do fundo, alegando que Inez estava senil quando assinou, alegando que Thomas fora manipulado, alegando que Eileen era uma fraude.

Eles não queriam apenas o dinheiro. Queriam destruir a credibilidade dela.

Eileen sentou-se no escritório de Benally, uma pequena sala cheirando a couro velho e sálvia. Benally era um homem mais velho com uma longa trança e linhas profundas gravadas ao redor dos olhos.

— Eles vão arrastar você na lama — avisou Benally. — Dirão que você é uma forasteira. Que você não pertence à tribo. Que é uma interesseira.

— Não me importo com o que me chamem — disse Eileen. — Eu me importo com o que tentaram fazer com meus filhos.

— Ótimo — disse Benally. — Porque não vamos apenas combatê-los no tribunal. Vamos combatê-los com a verdade.

A estratégia era simples: transparência radical. Benally arranjou para Eileen ir à estação de rádio comunitária local.

— Eu não pedi isso — disse Eileen ao apresentador, com a voz tremendo levemente pelas ondas do rádio. — Eu estava feliz naquela casinha de adobe. Mas eles nos expulsaram. Disseram que eu não era família. Bem, Inez Yazzy pensava diferente. Ela não deixou esta terra para as pessoas que se importam com linhagens de sangue. Ela a deixou para as pessoas que se importam com a terra.

A história se espalhou como fogo pela reserva. As pessoas conheciam Julian Nez. Conheciam sua arrogância. E amavam a história da viúva injustiçada que lutava contra ele.

O tribunal estava lotado no dia do veredito.

Julian e Rosa sentaram-se do lado dos queixosos, cercados por uma equipe de advogados caros de Albuquerque. Eileen sentou-se com Benally, usando seu melhor casaco — aquele com o punho desfiado.

O advogado de Julian passara três dias argumentando que Inez estava mentalmente inapta e que o fundo violava os costumes tribais em relação à linhagem.

Mas Benally havia apresentado a “prova irrefutável” — um testemunho em vídeo que Inez gravara com seu advogado em 2004, preservado no cofre do banco.

A juíza o reproduziu no tribunal silencioso. Na tela, Inez parecia frágil, mas seus olhos eram afiados como sílex.

“Meu filho Isaac e sua esposa só se importam com status”, a voz de Inez estalou pelos alto-falantes. “Eles querem vender a terra para as empresas de exploração. Thomas tem um bom coração. E sua esposa, Eileen… ela tem uma espinha dorsal de aço. Ela é a única em quem confio para manter a terra inteira. Se vocês estão assistindo a isto, significa que estou morta e os abutres estão circulando. Não os deixem se alimentar.”

O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Julian recusou-se a levantar os olhos. Rosa olhava para frente, com o rosto numa máscara de fúria.

A juíza, uma mulher severa que já vira disputas de terra demais, não demorou para deliberar.

— O tribunal considera o fundo válido e vinculativo — sentenciou ela. — A escritura, os direitos minerais e todos os ativos acumulados pertencem ao espólio de Thomas Nez, com Eileen Nez como única executora.

O martelo bateu.

Eileen não comemorou. Ela simplesmente exalou, um suspiro longo e trêmulo que liberou meses de medo. Jojo, sentado atrás dela, apertou seu ombro. Tisa, sentada ao lado dele, enterrou o rosto nas mãos e chorou.

Seis meses depois.

A casa de adobe ainda estava lá, mas Eileen não tinha voltado para ela. Em vez disso, ela mandou restaurar a velha casa do rancho nas terras de Red Rock. Era um lugar vasto, cheio de luz e do som de seus filhos correndo pelos corredores.

Ela estava na varanda, vendo o pôr do sol pintar as mesas de ouro e violeta.

O dinheiro estava lá — mais dinheiro do que ela jamais poderia gastar. Mas ela não comprara uma mansão em Santa Fé. Não comprara carros chiques.

Ela estabelecera a Fundação Inez Yazzy. Eles estavam construindo um centro comunitário, uma nova escola para o distrito e uma clínica de assistência jurídica para famílias enfrentando despejo.

Um rastro de poeira na estrada chamou sua atenção. Um SUV preto subiu a longa entrada.

Eileen bebericou seu chá, observando enquanto Julian Nez saía do carro. Ele parecia mais velho, menor do que ela lembrava. Ele subiu os degraus, parando na base da escada.

— Eileen — ele assentiu.

— Julian.

— Eu… ouvi sobre o fundo de bolsas de estudo — disse ele, pigarreando. — É uma coisa boa.

— É o que Thomas teria querido — disse ela. — E Inez.

Ele olhou para o chão, mudando o peso de uma perna para a outra. — Nós agimos… mal. O luto faz as pessoas fazerem coisas terríveis.

— Não, Julian — disse Eileen, com a voz firme. — O luto deixa as pessoas tristes. A ganância torna as pessoas cruéis. Não confunda os dois.

Ele estremeceu, mas não discutiu. Enfiou a mão no bolso e tirou uma pequena bolsa de veludo. — Isto era de Thomas. O relógio do avô dele. Encontrei no cofre. Pertence a Tomasito.

Ele o colocou no parapeito da varanda.

— Adeus, Eileen.

— Adeus, Julian.

Ela o viu ir embora, a poeira assentando de volta na estrada.

A porta de tela rangeu ao abrir, e Tisa saiu, agora com onze anos e parecendo tanto com seu pai.

— Era ele? — perguntou ela.

— Sim.

— Ele vai voltar?

— Não — disse Eileen, colocando um braço em volta da filha. — Ele é parte do passado. Nós estamos construindo o futuro.

Elas ficaram juntas enquanto o sol mergulhava no horizonte, a terra se estendendo diante delas — vasta, antiga e, finalmente, segura. Eileen Nez, a forasteira, a viúva, a sobrevivente, inspirou o cheiro de sálvia e chuva. Ela estava exatamente onde pertencia.