
A garota com cicatrizes de queimadura em metade do rosto entrou na cafeteria, e o ambiente ficou em silêncio. Não era um silêncio de reverência, mas de desconforto. Pais viraram o rosto de seus filhos, protegendo seus olhos. Outros sussurravam atrás de smartphones erguidos, a curiosidade mascarando a crueldade. Ela ficou paralisada perto da porta, tremendo em seu moletom largo, pronta para desaparecer de volta na segurança das sombras.
Então, um homem com roupas de trabalho manchadas de graxa se levantou.
Ele não hesitou. Caminhou diretamente em direção a ela enquanto todos observavam, suas botas pesadas batendo suavemente contra o chão. Ele alcançou a mão trêmula dela e a segurou gentilmente. A cafeteria inteira parecia prender a respiração. Por que alguém como ele a trataria daquele jeito — como se ela importasse, como se ela ainda fosse humana?
Finn Carter cheirava a óleo de motor, café velho e exaustão. Ele estava acordado desde as 4 da manhã, descarregando remessas em um armazém de distribuição antes que seu turno na oficina mecânica começasse às oito. Suas mãos estavam permanentemente manchadas de preto, a graxa impregnada profundamente em suas impressões digitais, não importava o quanto ele esfregasse com sabão industrial. A aliança de casamento que ele costumava usar havia deixado uma faixa de pele pálida em seu dedo, mas o anel em si já não existia. Ele o vendera dois anos atrás, quando o aluguel venceu e sua ex-esposa, Jenna, parou de atender suas ligações sobre ajudar com a filha.
Salaria tinha seis anos. Ela tinha o cabelo escuro e rebelde de Finn e os olhos verdes brilhantes da mãe. Ela era inteligente, esperta demais para a idade, mas não entendia por que a mamãe morava em uma casa grande no subúrbio com um novo marido, enquanto eles moravam em um apartamento de um quarto na cidade, com tinta descascando e uma geladeira que zumbia alto demais à noite.
Finn não tinha palavras para explicar isso a ela. Jenna havia ido embora porque ele não podia dar a ela a vida que ela sentia que merecia. Ela disse isso a ele na saída, com a voz fria e definitiva. Disse que estava cansada de ser pobre, cansada de esperar que ele fosse mais do que um mecânico com graxa sob as unhas. Ela não levou nada além de suas roupas e sua decepção. Agora, ela enviava cinquenta dólares por mês quando se lembrava. Nunca era o suficiente. Finn trabalhava em dois empregos e ainda comprava os tênis de Salaria um número maior para que durassem mais.
Na manhã de sábado, apesar do cansaço, ele levou Salaria ao shopping. Ela tinha se comportado bem a semana toda, ganhando uma estrelinha dourada na primeira série, e ele queria que ela tivesse algo normal. Eles caminharam pelos corredores iluminados com suas vitrines brilhantes, e Salaria pressionou o rosto contra o vidro de uma loja de brinquedos, sua respiração embaçando a janela.
— Podemos entrar, papai? — ela perguntou.
Finn olhou para as etiquetas de preço visíveis através do vidro e sentiu o peso familiar e esmagador de sua carteira vazia. Mas olhou para o rosto esperançoso dela e assentiu. — Só por um pouquinho, querida.
Ela correu na frente, ziguezagueando entre os corredores, e ele a seguiu, tentando mantê-la à vista através da multidão do fim de semana. A loja estava cheia; famílias se moviam em grupos, com os braços cheios de sacolas de compras que custavam mais do que o pagamento semanal de Finn.
Finn ficou perto da entrada, observando Salaria examinar um coelho de pelúcia com orelhas caídas. Ele olhou para o celular por uma fração de segundo para ver as horas — ele tinha que estar em seu segundo turno em breve. Quando olhou para cima, o coelho estava de volta na prateleira e Salaria havia desaparecido.
Ele chamou o nome dela uma vez. Duas vezes. Sua voz aumentava a cada repetição, cortando a música pop ambiente. Ele empurrou as pessoas pelos corredores, examinando as fileiras de bonecas, as filas do caixa, as portas da frente. Seu peito apertou, um aperto de pânico. Ele não conseguia respirar.
Salaria.
Ele correu para o corredor fora da loja, suas botas de trabalho derrapando no piso de granilite polido. O shopping se estendia infinitamente em ambas as direções. As pessoas passavam sem olhar para ele, fluindo como água ao redor de uma pedra. Ele gritou o nome dela novamente, mais alto desta vez, desesperado. Algumas cabeças se viraram, rostos irritados ou indiferentes, mas ninguém parou.
Então ele ouviu — uma voz pequena, chorando.
Ele correu em direção ao som, virando a esquina perto da entrada da praça de alimentação. E lá estava ela.
Salaria estava parada perto de um banco de madeira, lágrimas escorrendo pelo rosto, as mãos agarrando a barra de seu vestido floral desbotado. Ao lado dela, ajoelhada na altura dos olhos dela, estava uma mulher com um moletom escuro e largo e uma máscara médica que cobria a metade inferior do rosto.
A mulher falava suavemente, a mão repousando gentilmente no ombro de Salaria. Finn não conseguia ouvir as palavras, mas viu os ombros da filha relaxarem. Ela havia parado de chorar.
Ele diminuiu a velocidade ao se aproximar, o coração ainda martelando contra as costelas. A mulher olhou para ele e, por um momento, seus olhos se encontraram. Eram cinzas — cansados, cautelosos e cheios de uma tristeza profunda.
— Papai! — Salaria se soltou e correu para os braços dele.
Ele a pegou, erguendo-a do chão e pressionando o rosto em seu cabelo, sentindo o cheiro de seu xampu de morango. — Me desculpe — ele engasgou, a voz falhando. — Me desculpe, bebê. Eu estou aqui.
A mulher de moletom levantou-se lentamente. Ela deu um passo para trás, as mãos desaparecendo instantaneamente nos bolsos. — Ela estava procurando por você — disse a mulher calmamente. Sua voz era suave, quase hesitante, desacostumada ao volume de uma conversa.
Finn colocou Salaria no chão, mas manteve uma mão protetora em seu ombro. Ele olhou para a mulher novamente, realmente vendo-a desta vez. — Obrigado. Eu… eu não sei o que teria feito.
— Se está tudo bem… — a mulher interrompeu, olhando ao redor da praça de alimentação lotada, o corpo tenso como se esperasse um golpe. — Ela está segura. Isso é o que importa.
Salaria puxou a manga de Finn. — Papai, a máscara dela caiu.
Finn franziu a testa. Ele olhou para a mulher mais de perto. O capuz estava puxado para baixo sobre a testa, e a máscara cobria o nariz e a boca, mas quando ela se levantou, a máscara havia escorregado um pouco.
— Ela tem alguns dodóis — continuou Salaria, com a voz inocente e prática. — Mas ela disse que está tudo bem. Ela disse que todo mundo tem dodóis.
A mão da mulher voou para a máscara, ajustando-a freneticamente. Seus dedos tremiam. Finn percebeu o que a filha queria dizer. Ele viu a borda da pele cicatrizada ao longo da mandíbula da mulher, a textura enrugada e irregular que desaparecia sob o tecido. Cicatrizes de queimadura. Recentes o suficiente para que a pele ainda parecesse irritada e em carne viva em alguns lugares.
Finn não recuou. Ele não desviou o olhar. Ele sustentou o olhar dela.
— Obrigado — disse ele novamente, e desta vez colocou todo o peso de sua gratidão nas palavras. — De verdade. Obrigado.
A mulher assentiu uma vez, com os olhos desviados, e virou-se para sair.
— Espere — Finn a chamou.
Ela parou, mas não se virou.
Salaria puxou a mão dele. — Papai, podemos pagar um chocolate quente para ela? Por favor? Ela foi muito legal comigo.
Finn olhou para a filha, depois para a figura solitária de preto. Ela estava parada ali, congelada, como se esperasse permissão para existir.
— Você me deixaria pagar um café para você? — Finn perguntou às costas da mulher. — Ou chocolate quente? O que você quiser. É o mínimo que posso fazer.
A mulher virou-se lentamente. Seus olhos eram visíveis acima da máscara, e estavam cheios de algo que Finn reconhecia intimamente: medo. Não dele, mas de todo o resto. Das pessoas passando. De ser vista.
— Você não precisa — ela sussurrou.
— Eu sei — respondeu Finn, oferecendo um sorriso cansado e genuíno. — Mas eu gostaria.
Salaria sorriu radiante. — Por favor? Só por um pouquinho?
A mulher olhou para a garotinha, e algo em sua expressão cautelosa se partiu. Ela olhou para a praça de alimentação movimentada, depois para o rosto aberto de Finn, e depois de volta para Salaria.
— Tudo bem — disse ela finalmente. — Só por um pouquinho.
Eles se sentaram em uma mesa de canto, longe do fluxo principal de tráfego. Finn comprou dois chocolates quentes com chantilly extra e um café preto para si mesmo. Salaria balançava as pernas sob a mesa, segurando a xícara com as duas mãos. A mulher sentou-se em frente a eles, com o capuz ainda levantado e a máscara no lugar.
— Sou o Finn — disse ele. — Esta é a Salaria.
A mulher hesitou. — Lissa.
— Prazer em conhecê-la, Lissa.
Ela não respondeu. Apenas olhou para o vapor subindo de sua xícara.
Salaria se inclinou para a frente. — Você mora perto daqui?
Lissa balançou a cabeça. — Na verdade, não.
— Você vem muito ao shopping?
Outro movimento de cabeça. — Não. Geralmente não.
Finn podia ver a tensão irradiando dela. Ela estava presente fisicamente, mas seu espírito estava pronto para fugir.
— Salaria — disse ele gentilmente. — Talvez deixe a Senhorita Lissa ter um minuto.
— Tá bom. — A filha assentiu e tomou um gole barulhento de seu chocolate quente, deixando um bigode de chantilly no lábio superior.
Os olhos de Lissa se voltaram para a menina e, pela primeira vez, Finn viu o fantasma de um sorriso enrugar os cantos dos olhos dela.
— Ela é um doce — disse Lissa calmamente.
— Ela é — concordou Finn. — Doce demais, às vezes. Ela não entende por que as pessoas podem ser malvadas.
Lissa olhou para ele então — realmente olhou para ele — e Finn viu o fardo pesado que ela carregava. Estava na curvatura de seus ombros, no ângulo de seu queixo, na maneira como ela se encolhia quando um adolescente passava muito perto da mesa deles.
— As pessoas encaram — disse ela. Não foi uma pergunta.
— É — disse Finn suavemente. — Elas encaram.
Ela desviou o olhar. — Eu não deveria ter saído hoje. Não sei por que pensei que seria diferente.
Finn se inclinou para a frente, baixando a voz. — Minha filha estava perdida e assustada, e você parou para ajudá-la. Isso não é nada. Isso é tudo.
Lissa encontrou os olhos dele novamente. Os dela estavam úmidos. — Você não olhou para mim como se eu fosse um monstro — disse ela, com a voz embargada. — Sua filha não gritou.
Finn sentiu algo se abrir em seu peito. — Você não é um monstro. Você não sabe disso.
— É — ela sussurrou. — Eu sei.
Salaria estendeu a mão sobre a mesa e deu tapinhas na mão de Lissa com os dedos pegajosos. — Você é muito legal. Eu gosto de você.
Lissa olhou para a mão pequena cobrindo a dela. Ela não se afastou.
Eles ficaram sentados lá por vinte minutos. Finn não perguntou sobre as cicatrizes. Não perguntou de onde ela vinha ou por que estava sozinha. Ele apenas falou sobre pequenas coisas — sobre a escola de Salaria, sobre o Mustang antigo que estava restaurando na oficina, sobre nada e tudo. E Lissa ouviu. Ela tomou seu chocolate quente levantando levemente a máscara. Respondeu às perguntas de Salaria com frases curtas e cuidadosas.
Quando finalmente se levantaram para sair, Salaria abraçou a perna de Lissa. — Podemos te ver de novo? — perguntou ela.
Lissa olhou para Finn, o pânico brilhando em seus olhos.
— Só se você quiser — disse Finn rapidamente. — Sem pressão.
Lissa puxou o capuz com mais força. — Acho que não é uma boa ideia.
— Por que não? — perguntou Salaria.
Lissa se ajoelhou para ficar na altura dos olhos da garotinha. — Porque às vezes… às vezes pessoas como eu ficam melhor sozinhas.
— Isso é bobagem — disse Salaria com firmeza. — Ninguém deveria ficar sozinho.
Os olhos de Lissa se encheram de lágrimas. Ela se levantou abruptamente e foi embora antes que qualquer um dos dois pudesse dizer mais alguma coisa. Finn a viu ir, uma silhueta escura desaparecendo na multidão brilhante.
— Papai, ela estava triste — disse Salaria, puxando a mão dele.
— É, bebê — disse Finn. — Ela estava.
— Podemos fazer ela não ficar triste?
Finn olhou para a filha, para seus grandes olhos verdes e seu rosto esperançoso, e não teve coragem de dizer a ela que algumas tristezas eram grandes demais para consertar.
— Talvez — disse ele. — Talvez possamos tentar.
Lissa não dormiu naquela noite. Ela se sentou em seu quarto na Ala Leste da Propriedade Harrington, olhando para o reflexo que havia aprendido a evitar. O espelho mostrava o que o mundo via. O lado esquerdo de seu rosto estava intocado, ainda carregando as maçãs do rosto altas e a pele impecável que a haviam colocado em capas de revistas locais quando ela tinha dezenove anos. O lado direito era uma paisagem de tecido cicatricial — rosa, branco e roxo — estendendo-se de sua têmpora até o maxilar.
Três anos atrás, ela estava no banco do passageiro quando sua madrasta desviou para evitar uma criança correndo para a rua. O carro bateu em um poste de luz. O motor pegou fogo. Sua madrasta morreu no impacto. Lissa sobreviveu com queimaduras de terceiro grau em quarenta por cento do corpo.
Ela não saía da propriedade há dois anos, não até hoje.
O rosto da garotinha continuava aparecendo em sua mente. Salaria. A maneira como ela olhara para as cicatrizes sem recuar. A maneira como ela dissera: “Todo mundo tem dodóis”, como se fosse a verdade mais simples do universo. E o pai, Finn. O homem com olhos gentis e camisa manchada de graxa que olhara para ela como se ela fosse uma pessoa, não uma tragédia.
Seu telefone vibrou na mesa de cabeceira. Uma mensagem do assistente executivo de seu pai: Café da manhã às 8:00. Seu pai quer vê-la.
Lissa fechou os olhos. Clinton Harrington não a convocava a menos que algo estivesse errado.
Quando ela entrou na sala de jantar na manhã seguinte, seu pai já estava sentado na cabeceira da longa mesa de mogno, um tablet à sua frente. Ele não olhou para cima quando ela se sentou.
— Bom dia — disse ela calmamente.
Clinton tocou na tela uma vez, depois deslizou o tablet pela madeira polida em direção a ela. Na tela havia uma fotografia granulada, tirada à distância com uma lente teleobjetiva. Mostrava Lissa sentada a uma mesa na praça de alimentação do shopping. À sua frente estavam um homem com camisa de trabalho e uma garotinha de cabelo escuro.
O estômago de Lissa despencou.
— Quem é ele? — perguntou Clinton. Sua voz era calma, controlada. Isso tornava tudo pior.
— Um estranho — disse Lissa. — A filha dele estava perdida. Eu a ajudei a encontrá-lo. E então… tomamos café.
— Você sentou com eles por vinte e três minutos.
Lissa olhou para a foto. — Você tinha alguém me vigiando?
— Alguém está sempre vigiando você, Elissa. Para sua proteção. — Clinton tomou um gole de seu café. Ele tinha sessenta e dois anos, cabelos prateados e era frio da maneira que apenas homens com muito poder podiam ser. Ele construíra um império no setor imobiliário comercial e administrava sua família com a mesma eficiência implacável.
— O nome dele é Finn Carter — disse Clinton, recitando os fatos de memória. — Trinta e seis anos. Trabalha como mecânico e carregador de armazém. Divorciado. Mora em um apartamento de um quarto no Distrito Sul. Ele ganha trinta e dois mil por ano antes dos impostos. Ele tem dívidas significativas.
Lissa sentiu o rosto queimar. — Você o investigou?
— Claro que sim. Você saiu desta casa pela primeira vez em dois anos e sentou-se com um estranho. Eu precisava saber quem ele era.
— Ele foi gentil comigo — disse Lissa, com a voz trêmula. — Só isso.
Clinton recostou-se na cadeira. — Bondade é barata. As pessoas são gentis quando veem uma oportunidade.
— Ele não queria nada. Ele apenas disse obrigado.
— Homens como ele sempre querem alguma coisa — disse Clinton, com os olhos duros. — Especialmente de mulheres como você.
Lissa recuou. — Mulheres como eu?
— Você sabe o que quero dizer.
Ela se levantou abruptamente, a cadeira raspando alto contra o chão. — Você quer dizer danificada. Você quer dizer quebrada. Você quer dizer que ninguém me quereria a menos que estivesse atrás do seu dinheiro.
A expressão de Clinton não mudou. — Quero dizer vulnerável.
Lissa virou-se e saiu antes que ele pudesse vê-la chorar.
Ela ficou no quarto por dois dias. Deitou-se na cama e tentou se convencer de que Clinton estava certo. Que Finn só tinha sido gentil porque sentiu pena dela. Que ela era uma tola.
Mas ela não conseguia parar de pensar no calor daquela cafeteria. No terceiro dia, ela tomou uma decisão. Saiu da propriedade ao anoitecer, vestindo seu moletom e máscara. Pegou um táxi para o Distrito Sul, dando ao motorista o endereço que memorizara do relatório que o pai deixara sobre a mesa.
O prédio de apartamentos era velho, os tijolos desmoronando. Ela subiu as escadas para o segundo andar. Número 12.
Ela bateu antes que pudesse mudar de ideia.
A porta se abriu e Finn estava lá, com uma camiseta desbotada e jeans, um pano de prato jogado sobre o ombro. Atrás dele, Lissa podia ver uma pequena sala de estar cheia de brinquedos, um contraste gritante com os corredores estéreis da propriedade de seu pai.
Ele olhou para ela, os olhos se arregalando. — Lissa?
Ela abaixou a máscara. — Desculpe. Eu não deveria ter vindo. Eu só…
— Não — disse Finn rapidamente, recuando. — Não, entre. Por favor.
Ela entrou. Salaria estava na mesa da cozinha, colorindo. Ela olhou para cima e seu rosto se abriu em um sorriso que iluminou o quarto escuro. — Senhorita Lissa!
A garotinha pulou da cadeira e correu, abraçando a cintura de Lissa. Lissa ficou paralisada por um momento, depois pousou lentamente a mão na cabeça de Salaria.
Finn fechou a porta. — Não achei que te veria de novo.
— Eu não achei que viria — admitiu Lissa. — Eu queria dizer obrigado. Pelo outro dia. Por não me tratar como um fantasma.
Finn sorriu, e foi o tipo de sorriso que a fez acreditar, apenas por um momento, que ela poderia ser normal novamente. — Você não é um fantasma, Lissa.
Salaria puxou sua mão. — Quer colorir comigo?
Lissa olhou para Finn. Ele assentiu, encorajando-a. — Sim — disse ela. — Eu gostaria disso.
Eles se sentaram à mesa. Finn fez chá enquanto Lissa coloria uma borboleta de azul.
— Você tem emprego? — perguntou Salaria inocentemente.
— Salaria — advertiu Finn gentilmente da cozinha.
— Tudo bem — disse Lissa. — Eu costumava ter. Eu ia ser arquiteta. Mas parei depois do meu acidente.
— Ainda dói? — perguntou Salaria, apontando para a própria bochecha.
— Às vezes — disse Lissa. — Não as cicatrizes. Mas… por dentro. Como meu coração.
Salaria estendeu a mão e deu tapinhas na mão dela. — Minha mamãe nos deixou. Isso machucou o coração do papai. Mas ele diz que tudo bem ficar triste às vezes.
Finn colocou duas canecas de chá na mesa. Ele se sentou em frente a Lissa. — Por que você veio aqui, de verdade? — perguntou ele suavemente.
Lissa olhou para o chá. — Porque passei três anos me escondendo. E estou cansada disso. Eu queria ver se conseguia estar perto de pessoas novamente. Perto de alguém que não me olhasse como se eu estivesse quebrada.
— Você não está quebrada — disse Finn.
— Você não sabe disso.
— É — disse ele, inclinando-se para mais perto. — Eu sei.
O espaço entre eles parecia impossivelmente pequeno. Ele estava perto o suficiente para que ela visse os pontos dourados em seus olhos castanhos. Ela se inclinou para a frente sem pensar. Ele fez o mesmo.
Um flash de luz explodiu do lado de fora da janela.
Ambos recuaram. Finn correu para a janela e puxou a cortina. Embaixo, na rua, um homem com uma câmera estava pulando para dentro de um sedã.
— Droga — murmurou Finn.
Lissa sentiu o gelo inundar suas veias. — Não. Não, não, não. — Ela se levantou, o pânico tomando conta. — Eu tenho que ir.
— Lissa, espere…
Mas ela já estava correndo escada abaixo.
Pela manhã, a foto estava em toda parte.
Ela mostrava Lissa e Finn através da janela de seu apartamento, com os rostos a centímetros de distância. A manchete do tabloide local gritava: A HERDEIRA E O MECÂNICO: Uma História de Amor ou um Golpe?
O artigo era cruel. Chamava Finn de interesseiro. Chamava Lissa de “O Fantasma da Propriedade”. Especulava sobre quanto da fortuna dela Finn estava tentando garantir.
O pai de Lissa apareceu na porta do quarto dela ao meio-dia. — Faça as malas — disse ele. — Você vai voltar para a casa principal. Nada de ala de hóspedes. Nada de sair. Eu disse que aquele homem queria alguma coisa. Agora o mundo inteiro acha que você é uma tola.
— Ele não fez isso! — Lissa gritou. — Alguém me seguiu!
— E de quem é a culpa? — retrucou Clinton. — Você deixou a segurança desta casa para sentar em um cortiço com um homem que ganha um salário mínimo. Eu não vou ficar parado vendo você se destruir.
Ele saiu, trancando a porta por fora.
Pelos três dias seguintes, Lissa foi uma prisioneira. Seu telefone foi confiscado. A internet foi cortada. Mas ela sabia o que estava acontecendo.
A vida de Finn estava sendo desmantelada.
Seu senhorio rescindiu o contrato de aluguel, citando “incômodo causado pela atenção da imprensa”. Seu chefe na oficina o demitiu — drama demais. Estranhos picharam INTERESSEIRO em sua porta.
No quarto dia, Clinton entrou no quarto dela com uma pasta jurídica. — Estou entrando com uma ordem de restrição — disse ele. — Contra Finn Carter. Ele não deve contatá-la, aproximar-se de você ou chegar a menos de 150 metros de você.
— Você não pode fazer isso! Ele não fez nada de errado!
— Ele expôs você. Ele a colocou em perigo. — Clinton jogou a pasta na mesa dela. — Se você tentar contatá-lo novamente, farei com que os direitos parentais dele sejam contestados. Vou garantir que ele perca a custódia daquela garotinha. Eu tenho advogados para fazer isso, Elissa. Não me teste.
Lissa sentiu o chão sumir sob seus pés. Ela pensou no sorriso de Salaria. Ela não poderia ser a razão pela qual aquela garotinha perderia o pai.
Ela afundou no chão, derrotada. — Tudo bem — sussurrou ela. — Eu não vou vê-lo.
Uma semana se passou. Lissa parou de comer. Parou de dormir. Tornou-se o fantasma que sempre temera ser.
No oitavo dia, Clinton entrou em seu quarto. Ele parecia diferente. Mais velho. Cansado. Ele segurava uma pasta diferente desta vez.
— Leia — disse ele, colocando-a na cama.
— O que é isso? — perguntou Lissa, com a voz rouca.
— O relatório do acidente. O completo. Não o resumo que lhe dei três anos atrás.
Lissa sentou-se. — Por quê?
— Porque — disse Clinton, com a voz tremendo um pouco — eu estava errado.
Lissa abriu a pasta. Dentro havia relatórios policiais, depoimentos de testemunhas e diagramas. Ela leu, a respiração presa. O outro motorista havia ultrapassado o sinal vermelho. Ele estava bêbado. Sua madrasta havia desviado especificamente para proteger o lado do passageiro — o lado de Lissa — do impacto.
Não foi culpa dela.
— Você sabia? — Lissa olhou para cima, lágrimas escorrendo pelo rosto. — Você sabia que não foi minha culpa?
— Eu estava com raiva — admitiu Clinton, desviando o olhar. — Eu estava de luto. Era mais fácil deixar você se culpar do que lidar com meu próprio fracasso em proteger vocês duas. Achei que se você se sentisse culpada, ficaria por perto. Ficaria segura.
— Você me deixou me odiar por três anos.
— Eu sei. — Clinton respirou fundo e trêmulo. — Observei você esta semana. Você está desaparecendo, Elissa. Pensei que estava protegendo você, mas estou matando você.
Ele enfiou a mão no bolso e tirou um molho de chaves.
— Vá até ele.
Finn estava empacotando a última caixa. Salaria estava na casa da avó passar a noite. Ele tinha que sair do apartamento pela manhã. Não tinha para onde ir.
Houve uma batida na porta.
Ele abriu, esperando o senhorio. Em vez disso, encontrou Lissa.
Ela não estava usando máscara. Não estava usando capuz. Seu cabelo estava puxado para trás, expondo cada centímetro de suas cicatrizes. Ela parecia aterrorizada e parecia linda.
— Lissa?
— Meu pai me contou tudo — disse ela, entrando na sala. — Ele me contou sobre o acidente. Ele me disse… ele me disse que tenho permissão para viver.
Finn largou o rolo de fita adesiva que segurava. — Perdi meu emprego — disse ele. — Estou perdendo o apartamento. Não tenho nada para te oferecer, Lissa. O mundo acha que sou um golpista.
— Não me importo com o que o mundo pensa — disse ela, diminuindo a distância entre eles. — Meu pai resolveu o aluguel. Ele está ligando para o seu chefe agora mesmo. Mas mesmo se não estivesse… eu não me importo.
Ela pegou a mão manchada de graxa dele na dela.
— Você e Salaria… vocês me fizeram sentir real novamente. Não quero mais me esconder.
Finn olhou para ela, para a coragem gravada em sua pele. — Tem certeza?
— Sim.
Ele a puxou para seus braços, enterrando o rosto no pescoço dela. — Senti sua falta — sussurrou ele.
— Eu também senti sua falta.
Um ano depois.
Lissa estava em um campo de flores silvestres nos arredores da cidade, o sol se pondo em uma explosão de laranja e roxo. Finn estava ao lado dela, com o braço em volta de sua cintura. Salaria corria à frente, perseguindo borboletas, sua risada levada pelo vento.
Os tabloides acabaram perdendo o interesse. Novos escândalos substituíram os antigos. Lissa e Finn viviam uma vida tranquila. Ela havia voltado para a faculdade de arquitetura; ele abrira sua própria pequena oficina com um empréstimo bancário — não de seu pai. Clinton visitava aos domingos, desajeitado, mas tentando.
— Ela quer te chamar de mãe — disse Finn calmamente.
Lissa olhou para ele, o coração inchando. — O que você acha?
— Acho que você mereceu.
Salaria correu de volta para eles, sem fôlego e sorrindo, segurando um dente-de-leão. — Façam um desejo!
Lissa se ajoelhou. — O que devo desejar?
— Algo que te faça feliz — disse Salaria.
Lissa olhou para Finn, depois de volta para a garotinha. — Eu já tenho.
Finn enfiou a mão no bolso e tirou uma pequena caixa de veludo. Não era um diamante do cofre dos Harrington. Era uma aliança de prata simples com uma pequena safira brilhante.
— Sei que não somos ricos — disse Finn, ajoelhando-se na grama. — E sei que a vida é complicada. Mas eu te amo. Eu te amo, com cicatrizes e tudo.
— Quer casar comigo?
Lissa olhou para o homem que segurara sua mão quando todos os outros desviaram o olhar.
— Sim — disse ela, com a voz firme e segura. — Sim, eu aceito.
Salaria gritou e jogou os braços em volta dos dois, derrubando-os na grama. Eles ficaram lá, embolados, rindo enquanto as estrelas começavam a piscar acima deles.
Lissa tocou sua bochecha, a pele lisa e a pele cicatrizada. Ela costumava pensar que as cicatrizes eram o fim de sua história. Agora ela sabia que eram apenas o começo. Ela não era mais a garota nas sombras. Ela era Lissa, e era amada.
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