O motor da Harley-Davidson Road Glide de Colt Henderson rugia como uma fera cativa, liderando uma coluna de cromo e aço pela extensão sinuosa da Rota 27. O asfalto brilhava sob o sol impiedoso do meio-dia, o calor subindo em ondas que distorciam o horizonte. Atrás dele, os Iron Heaven Riders — noventa e nove homens fortes, leais até a morte — moviam-se em formação perfeita, uma serpente trovejante cortando o silêncio úmido e opressivo dos bosques profundos dos Apalaches.

Colt, um homem com ombros largos como pedras e uma barba da cor de prata polida que descia até o peito, estreitou os olhos por trás dos óculos escuros de aviador. O vento batia em seu rosto, trazendo o cheiro de pinho e gasolina, um perfume que para ele significava liberdade. Ele tinha visto o pior da humanidade durante suas missões no exterior e nos capítulos mais violentos de sua juventude, mas ele respeitava a estrada. A estrada não mentia. A estrada não traía. Era o único lugar que fazia sentido.

Então, o mundo inclinou.

Saindo da densa linha das árvores, onde as samambaias eram altas e as sombras profundas, um borrão de rosa e lama cambaleou para o asfalto quente.

Colt não pensou; o instinto assumiu o comando. Ele pisou fundo nos freios, os pneus de composto macio cantando e soltando fumaça branca enquanto a moto de meia tonelada derrapava levemente, lutando contra a física e o impulso. Atrás dele, o som de borracha queimada ecoou em cascata, luzes de freio brilhando em vermelho num efeito dominó aterrorizante. O estrondo de cem motores caiu de um rugido ensurdecedor para um rosnado tenso em marcha lenta.

Lá, parada no meio da faixa dupla amarela, tremendo como uma folha na tempestade, estava uma criança. Ela não podia ter mais de sete anos. Estava descalça, seus pés sangrando por cortes de pedras e espinhos. O vestido rosa, que deveria ser de festa, estava rasgado e coberto com a lama escura e argilosa da região. Seu peito arfava tão violentamente que Colt podia ver suas costelas forçando contra a pele pálida. Mas foram os olhos dela que o paralisaram — grandes, vítreos e não apenas assustados; estavam despedaçados.

Colt baixou o descanso com um clangor metálico e desmontou em um movimento fluido. A menina, que ele mais tarde saberia chamar-se Harlo Grace, não recuou diante da parede de homens barbudos e vestidos de couro. Ela correu em direção a ele, suas mãos minúsculas tremendo incontrolavelmente enquanto agarravam o couro desgastado de seu colete, manchando-o de terra.

— Eles penduraram minha mãe! — ela gritou, a voz falhando como um sino rachado, estridente e carregada de um desespero que nenhuma criança deveria conhecer. — Eles a colocaram na árvore! Você tem que salvá-la! Por favor!

As palavras atingiram o grupo como um golpe físico no estômago. Os motores silenciaram um a um, à medida que os dedos desligavam os interruptores de emergência. O silêncio pesado da floresta voltou, mas agora estava contaminado pelo choro irregular e agudo da menina.

Colt ajoelhou-se, ignorando a dor nos joelhos velhos, ficando na altura dos olhos dela. Ele segurou os ombros dela com firmeza, mas com gentileza. Viu as marcas vermelhas e vivas de queimadura por atrito em seus pulsos, onde cordas grossas haviam mordido a pele.

— Respire, pequena. Quem fez isso? Onde?

— Os homens maus — ela engasgou, o pânico tomando conta, apontando um dedo trêmulo de volta para uma trilha de extração de madeira, densa e coberta de mato, que desaparecia na escuridão entre os pinheiros. — Eles disseram que ela sabia demais. Eles a penduraram no velho carvalho. Por favor, moço, o rosto dela… ela está ficando azul!

A cor drenou do rosto de Colt sob o bronzeado. Ele olhou para cima, seus olhos encontrando os de “Doc” Miller, o Sargento de Armas do clube e ex-paramédico de combate, que já estava fora de sua moto, abrindo o alforje lateral e sacando um kit médico tático vermelho.

— Vamos nessa! — Colt berrou, sua voz, acostumada a dar ordens sob fogo cruzado, cortou o ar e comandou o caos. — Doc, você cola na minha roda. Riz, Tank, bloqueiem a estrada nos dois sentidos. Ninguém entra ou sai dessa área até eu dizer o contrário.

Colt não esperou resposta. Ele pegou Harlo no colo, o peso dela chocantemente leve em seus braços, e a colocou sobre o tanque de combustível largo de sua moto.

— Segure no centro do guidão, querida. E não solte, não importa o quanto balance. Entendeu?

Ela assentiu, lágrimas escorrendo pelo rosto sujo de fuligem.

Ele ligou o motor. A Harley rugiu, não ficando no asfalto seguro, mas virando bruscamente para a trilha de terra que Harlo havia apontado. A suspensão gemia em protesto enquanto atingiam raízes expostas e pedras soltas. Atrás dele, o resto do bando selecionado saiu do asfalto para seguir seu líder, parecendo uma tempestade feita de ferro e trovão invadindo a santidade da floresta.

A trilha era um túnel claustrofóbico de verde. Galhos chicoteavam contra o capacete de Colt e arranhavam a carenagem da moto. Harlo enterrou o rosto no peito dele, soluçando contra o couro, mas manteve a mão esquerda apontada para frente, guiando-os através do labirinto. O ar ficou mais frio, mais pesado, impregnado com o cheiro de terra úmida e algo metálico.

Então, as árvores se abriram abruptamente.

A clareira era uma ferida aberta na floresta, dominada por um enorme e retorcido carvalho branco, cujos galhos se estendiam como dedos esqueléticos. E lá, balançando levemente na brisa estagnada, estava o pesadelo materializado.

Aubrey Grace pendia de um galho grosso. Seus pés estavam a poucos centímetros do chão, os dedos dos pés descalços arrastando na terra revolvida, sugerindo que ela lutou desesperadamente para ficar na ponta dos pés até que suas forças se esgotaram. Suas mãos estavam amarradas nas costas com brutalidade. Sua cabeça pendia para frente, queixo no peito, cabelos loiros cobrindo o rosto.

— Mamãe! — Harlo gritou, o som rasgando a alma de Colt e ecoando pelas árvores.

Colt não se importou com o descanso; ele deixou a moto de quase quinhentos quilos tombar na terra macia enquanto agarrava Harlo e cobria seus olhos com uma mão enorme, passando-a para um motociclista mais jovem, “Crow”, que havia parado ao lado derrapando.

— Não deixe ela olhar! — Colt ordenou, já correndo. — Cortem a corda! Agora!

Ele não foi o único. A adrenalina impulsionava três motociclistas em direção à árvore. Colt chegou primeiro. Ele envolveu seus braços maciços ao redor das pernas e da cintura de Aubrey, erguendo-a com um grunhido de esforço para aliviar a pressão estranguladora no pescoço. O corpo dela parecia pesado, inerte.

— Eu a peguei! Alguém sobe lá!

Um motociclista chamado Tank, apesar do tamanho imenso, subiu no tronco com agilidade surpreendente, uma faca tática serrilhada brilhando à luz do sol.

— Segura firme, Pres! — Tank gritou. Com um golpe violento e preciso, a corda se rompeu.

Aubrey desabou nos braços de Colt como uma marionete com as cordas cortadas. Ele a amorteceu, caindo de joelhos e deitando-a gentilmente na cama de agulhas de pinheiro. Seu rosto tinha um tom aterrorizante de cinza-arroxeado, seus lábios escuros, os olhos fechados e inchados. Não havia movimento. O silêncio na clareira era ensurdecedor.

— Afastem-se! Deem espaço! — Doc Miller deslizou de joelhos ao lado dela, abrindo o kit médico. Seus movimentos eram precisos, clínicos, desprovidos de pânico. Ele pressionou dois dedos na artéria carótida dela, procurando a vida. — O pulso está filiforme… quase inexistente. Ela está com hipóxia severa. As vias aéreas estão esmagadas, mas a traqueia não parece quebrada.

Doc inclinou a cabeça dela para trás, verificando a garganta, e então começou a respiração de resgate, bombeando ar para os pulmões paralisados.

A clareira estava imóvel. Noventa homens endurecidos pela vida, muitos com passagens pela prisão ou pela guerra, prenderam a respiração. O único som era o chiado-respiração rítmico da ressuscitação e os choros abafados e histéricos de Harlo de onde Crow e outros dois motociclistas a seguravam, criando uma parede humana de costas para a cena para protegê-la da visão de sua mãe morta.

Colt observava, ajoelhado na terra, segurando a mão fria de Aubrey. Seu coração martelava um ritmo doloroso que ele não sentia há anos. Ele olhou para o pescoço machucado da mulher, os arranhões defensivos em seus braços. Uma dor familiar e sombria torceu seu estômago — o fantasma de sua própria filha, Sarah, perdida para um motorista bêbado há uma década. Ele não estava lá para salvá-la naquela noite chuvosa. Ele não pôde salvar seu próprio sangue. A culpa era um colete que ele nunca tirava.

Não hoje, ele pensou, apertando a mão da desconhecida. Por Deus, não hoje.

— Vamos, Aubrey — Colt sussurrou, a voz rouca. — Lute. Sua menina precisa de você.

Um minuto se passou. Pareceu uma hora. Depois dois. A esperança começava a evaporar no calor da tarde.

De repente, o peito de Aubrey se contraiu espasmodicamente. Um suspiro irregular, gorgolejante e desesperado rasgou sua garganta, seguido por um ataque violento de tosse enquanto o ar invadia seus pulmões famintos.

— Ela voltou! — Doc anunciou, virando-a rapidamente de lado para evitar que ela engasgasse enquanto ela tinha ânsia de vômito. — Nós conseguimos. O pulso está ficando mais forte.

Um suspiro coletivo, como o vento passando pelas árvores, foi liberado pelos homens reunidos. Alguns fizeram o sinal da cruz; outros xingaram de alívio. Harlo, ouvindo a tosse da mãe, se soltou dos braços de Crow com uma força surpreendente e correu, passando pelas pernas dos homens. Ela se jogou na terra ao lado da mãe.

Aubrey, atordoada, mal consciente e com a visão turva, estendeu a mão cegamente. Seus dedos trêmulos encontraram o cabelo da filha.

— Filha… — ela raspou, a voz destruída, quase inaudível. — Corre… foge…

— Eu tô aqui, mamãe. Eu não vou correr. Eu consegui ajuda — Harlo soluçou, beijando a mão suja da mãe. — Os motoqueiros vieram.

Colt tirou seu colete de couro — um item sagrado, suas “cores”, que nunca tocavam o chão — e o colocou gentilmente sobre Aubrey para aquecê-la e evitar que o choque se instalasse. Ele olhou ao redor da clareira com olhos de predador. A porta da pequena cabana de madeira, visível através das árvores, havia sido arrombada. Isso não foi um roubo aleatório. Foi uma execução.

— Precisamos nos mover — disse Doc, verificando as pupilas de Aubrey com uma lanterna. — O edema na garganta vai piorar. Ela precisa ser intubada ou monitorada em um hospital agora.

— Nós rodamos — comandou Colt, levantando-se. A autoridade irradiava dele. — Tank, você, Riz e Dutch ficam aqui. Vigiem a propriedade. Se alguém voltar… se virem um carro estranho, se virem uma sombra… garantam que eles se arrependam de ter nascido.

— Pode deixar, Chefe — Tank rosnou, estalando os dedos.

A viagem até o hospital do condado foi um espetáculo que a pequena cidade de Oakhaven nunca esqueceria. Uma procissão de noventa motocicletas, com faróis acesos e pisca-alertas ligados, escoltava a moto de Colt. Ele pilotava com cuidado redobrado, Harlo segura à sua frente, protegida pelo seu corpo, enquanto Doc ia em um sidecar confiscado de um dos membros, com Aubrey estabilizada e enrolada em cobertores térmicos. Eles não pararam em sinais vermelhos. Eles se moviam como um único organismo, um escudo protetor de ruído e força bruta.

Na entrada da emergência, a equipe médica agiu rapidamente. Inicialmente intimidados pela horda de motoqueiros invadindo a rampa da ambulância, eles foram estimulados à ação pela urgência de Doc Miller, que passava os dados vitais com jargão médico profissional. Levaram Aubrey para trás das portas duplas em uma maca.

Harlo tentou correr atrás da maca, mas foi barrada por uma enfermeira. O pânico subiu em seus olhos, mas antes que ela pudesse gritar, Colt estava lá.

— Ela fica comigo — disse Colt à enfermeira, sua voz não admitindo discussão. Ele pegou a mão de Harlo. — Eu não vou sair do lado dela.

Pelas próximas seis horas, o Iron Heaven MC tomou conta do hospital. Eles eram respeitosos, mas inamovíveis. Ocuparam a sala de espera, o estacionamento e a calçada. Bebiam café ruim da máquina de venda automática e montavam guarda silenciosa.

O xerife local, Jim O’Malley, um homem cansado que conhecia Colt desde o ensino médio, entrou na sala de espera. Ele olhou para os motociclistas, depois para Colt, que estava sentado com Harlo adormecida em seu colo, enrolada em uma flanela xadrez.

— Colt — o xerife cumprimentou, tirando o chapéu. — Recebi chamadas sobre uma invasão na Rota 27 e um bloqueio de tráfego ilegal.

— A menina foi atacada, Jim — Colt disse baixo, acariciando o cabelo emaranhado de Harlo. — Tentaram linchar a mãe dela no quintal. Chegamos a tempo. Por pouco.

O rosto do xerife endureceu.

— Aubrey Grace? Aquela que mora na cabana velha dos Miller?

— Ela mesma.

— Quem fez isso?

— Homens maus — disse Colt, olhando fixamente para o xerife. — Meus rapazes estão… vigiando a casa. Para garantir que a perícia tenha o que precisa, claro.

O xerife sustentou o olhar por um longo momento. Ele sabia que a “perícia” de Colt era diferente da lei. Mas ele também sabia que seus recursos eram limitados e a justiça naquelas montanhas era lenta.

— Se você achar algo… ou alguém… me ligue, Colt. Não faça bagunça na minha cidade.

— Nós limpamos nossa bagunça, Jim. Você sabe disso.

Quando o sol começou a descer no horizonte, lançando longas sombras alaranjadas no chão de linóleo estéril, o médico cirurgião surgiu. Ele parecia exausto.

— Parentes de Aubrey Grace?

Colt se levantou, segurando Harlo, que acordou esfregando os olhos.

— Nós — disse Colt. E atrás dele, vinte homens se levantaram simultaneamente.

— Ela vai sobreviver — disse o médico, aliviando a tensão na sala. — Hematomas graves no pescoço, danos nas cordas vocais que vão levar meses para curar, e desidratação severa. Mas nenhuma lesão permanente na coluna e o cérebro está bem. Ela é uma mulher forte.

Harlo soltou um pequeno guincho de alegria e enterrou o rosto na camisa de Colt, soluçando de alívio. Colt, o homem de ferro, sentiu os olhos arderem. Ele passou o braço grosso ao redor da menina, segurando-a com força, permitindo-se sentir a emoção que havia bloqueado por tanto tempo.

— Posso vê-la? — Harlo perguntou, a voz abafada.

— Logo, pequena. Vamos deixar a mamãe descansar um pouco — disse Colt, sua voz rouca.

Os Iron Heaven Riders não foram embora. Nem naquela noite. Nem na seguinte. Eles organizaram um rodízio militar. Dois homens na porta do quarto do hospital, dois homens no posto de enfermagem, quatro no estacionamento. Eles traziam brinquedos para Harlo, revistas para Aubrey e garantiam que ninguém suspeito chegasse a menos de cem metros do prédio.

Quando Aubrey recebeu alta uma semana depois, ela não voltou para um lar destruído.

Enquanto ela se recuperava, Colt havia mobilizado o “Capítulo de Obras”. Os motociclistas que eram profissionais — carpinteiros, eletricistas, encanadores — haviam descido sobre a cabana na floresta como um exército de reconstrução.

Eles consertaram a porta arrombada, reforçando-a com uma estrutura de aço e trancas duplas. Substituíram os degraus podres da varanda e pintaram as janelas. Cortaram o mato alto que dava cobertura para intrusos. Instalaram um sistema de câmeras e holofotes com sensores de movimento que transformavam o quintal em dia ao menor movimento. Encheram a despensa com comida para um mês.

Quando Colt levou Aubrey e Harlo para casa em uma caminhonete alugada, Aubrey teve que ser amparada para não cair. Ela olhou para sua casa, agora segura, limpa e iluminada. Ela se virou para Colt, tocando o braço tatuado dele com a mão enfaixada.

— Por quê? — ela sussurrou, a voz ainda um chiado doloroso. — Eu não posso pagar vocês. Eu não tenho nada. Nem seguro, nem dinheiro…

Colt balançou a cabeça, um sorriso triste brincando em seus lábios sob a barba. Ele olhou para o gramado, onde Harlo estava rindo, tentando colocar o capacete gigante de Tank na cabeça, enquanto o enorme motoqueiro fingia medo dela.

— Você nos pagou, senhora. Você deu a um bando de cachorros velhos e cansados uma razão para serem bons homens novamente. Há muito tempo que não fazíamos algo… que realmente importasse.

Ele se ajoelhou na frente de Harlo, que correu para ele.

— Nós vamos indo agora, pequena. Deixar vocês se acomodarem.

O rosto de Harlo caiu instantaneamente. O brilho sumiu. O pânico, cru e real, voltou aos seus olhos.

— Não! — ela gritou, agarrando a perna dele. — Vocês não podem ir! Os homens maus… eles vão voltar!

— Ei, ei, olhe para mim — Colt disse, segurando o rosto dela com as duas mãos. — Os homens maus não vão voltar. Nunca mais.

Ele não disse a ela como sabia. Não disse a ela que seus homens haviam encontrado “rastros” que levavam para fora do estado, e que uma conversa muito séria havia ocorrido em um bar de beira de estrada a três cidades dali com certas pessoas que deviam dinheiro a agiotas perigosos. O problema havia sido… resolvido. Permanentemente.

— Tivemos uma conversa com o pessoal deste condado — continuou Colt. — Todo mundo sabe que você é filha do Iron Heaven agora. Ninguém toca em família.

Ele apontou para o final da entrada de automóveis. O motociclista chamado Dutch estava sentado em sua moto, lendo um livro grosso de capa dura, estacionado claramente à vista sob a luz do poste.

— E só para garantir… Alguém sempre estará vigiando. Dutch fica hoje à noite. Amanhã vem o Riz. Você nunca mais estará sozinha.

Harlo jogou os braços ao redor do pescoço de Colt, abraçando-o com uma ferocidade que quase o desequilibrou. Ela cheirava a xampu de morango e inocência, um contraste gritante com o mundo de óleo e violência dele.

— Eu te amo, Colt. Você é meu pai agora? — ela perguntou, com a simplicidade brutal das crianças.

Colt congelou. O gelo que envolvia seu coração há uma década, desde o dia em que enterrou Sarah, se estilhaçou completamente em mil pedaços. Ele engoliu o nó na garganta, abraçando-a de volta, fechando os olhos para conter as lágrimas. Ele olhou para Aubrey, que sorria através das lágrimas na varanda, e assentiu.

— Se você me quiser, garota… eu serei o que você precisar.

— Eu te amo também, papai Colt — ela sussurrou.

Nos meses que se seguiram, a dinâmica da pequena cidade e da vida de Colt mudou irrevogavelmente. A cabana solitária na floresta tornou-se o coração do Iron Heaven Riders. Os churrascos de domingo passaram a ser no quintal de Aubrey. Eles ajudavam Harlo com a matemática, ensinavam-na a andar de bicicleta e, eventualmente, como trocar uma vela de ignição.

A floresta, antes um lugar de terror, estava quieta e segura novamente.

Colt Henderson passou anos pilotando para longe de seus fantasmas, acelerando para tentar outrun (ultrapassar) a dor de um pai que falhou. Mas, parado naquela varanda, vendo o pôr do sol pintar o céu de roxo enquanto Harlo lia uma história para Dutch, ele percebeu que finalmente havia parado de correr.

Ele não apenas salvou uma vida naqueles bosques escuros. Ele encontrou a redenção que nem sabia que estava procurando. Ele havia encontrado sua própria vida de volta.