Encontro às Cegas na Véspera de Natal — O Pai Solteiro Azarado Chegou Atrasado, Mas o Bilionário Esperou Mesmo Assim

Ela estava sentada ali há quarenta e sete minutos. O café à sua frente já havia esfriado, uma poça escura e imóvel na xícara de cerâmica. Do lado de fora, as luzes de Natal piscavam em vermelho e dourado através das janelas embaçadas pela geada, transformando a rua movimentada de Chicago em um borrão impressionista. Mas, do lado de dentro, reinava um silêncio pesado, o tipo de silêncio que acompanha a espera.

Todos no café achavam que ela tinha levado um bolo. O barista, um jovem com um piercing no nariz e olhos gentis, trouxe-lhe uma segunda xícara, por conta da casa, com um olhar carregado de pena. Uma mulher em um casaco de grife, sozinha na véspera de Natal. Ela podia sentir os sussurros, o peso dos olhares curiosos. Ela vai chorar? Ela vai fazer uma cena?

Mas Clare Montgomery não fez nada disso. Ela não foi embora.

Às 20h17, a porta se abriu com um tilintar de sinos. Ele entrou. Sapatos encharcados, uma jaqueta amassada que já vira dias melhores, sem fôlego. Um homem que não se parecia em nada com o tipo de pessoa que alguém como ela deveria estar esperando. Mas ela sorriu mesmo assim. Porque a coisa mais cara naquele café não era o casaco de caxemira italiana que ela vestia, nem o relógio em seu pulso. Era o fato de ela ter esperado.

Como CEO de uma das maiores firmas de logística do país, Clare aprendeu cedo na vida que esperar era um luxo que ela não podia pagar. Nas salas de reunião, você falava primeiro ou perdia terreno. Nas negociações, a hesitação custava milhões. No casamento… bem, seu casamento havia terminado três meses atrás, e as últimas palavras de seu ex-marido ainda estavam alojadas em algum lugar entre suas costelas e sua espinha.

“Você nunca esperou por nada, Clare. Nem por mim. Nem por nós. Você estava sempre dez passos à frente. E eu cansei de tentar te alcançar.”

Ela não chorou naquela época. E não choraria agora. Sentada naquele pequeno café na Maple Street, com suas cadeiras descombinadas e ornamentos pintados à mão pendurados nas vigas expostas, o lugar cheirava a canela e lã molhada. O casal na mesa ao lado continuava lançando olhares furtivos para ela, com aquela marca particular de simpatia reservada para mulheres que jantam sozinhas durante as festas de fim de ano. Clare manteve o olhar fixo na porta.

Ela havia verificado o telefone doze vezes na última hora. Nenhuma mensagem, nenhuma chamada perdida, apenas a foto que Margaret, sua melhor amiga e advogada, havia enviado três dias atrás: um homem com olhos gentis e uma filha que parecia nunca ter parado de sorrir.

— Ele não é o que você está acostumada — Margaret dissera durante o almoço naquele restaurante onde as saladas custavam trinta dólares. — Mas ele é bom, Clare. Realmente bom. E eu acho que você precisa de algo bom agora.

Clare quase dissera não. Ela tinha uma empresa para administrar, um retiro corporativo para planejar e uma crise de relações públicas fervilhando logo abaixo da superfície depois que seu CFO vazou os números errados para o jornalista errado. Ela não tinha tempo para encontros às cegas, conversas fiadas ou qualquer que fosse aquela tentativa de normalidade. Mas Margaret a olhara com aquela expressão — parte pena, parte preocupação maternal — e Clare se ouviu dizendo “sim” antes que pudesse pensar melhor.

Agora ela estava ali. Sozinha. Esperando.

O barista se aproximou novamente. Ele colocou a segunda xícara de café na mesa sem dizer uma palavra, apenas um pequeno aceno de cabeça que conseguiu transmitir bondade e constrangimento na mesma medida. Clare envolveu as mãos ao redor da caneca de cerâmica. Estava quente. Isso era alguma coisa.

Ela não sabia por que ficara. A lógica dizia para ir embora. O orgulho gritava para que ela se levantasse, saísse e nunca mais olhasse para trás. Cada instinto que ela aprimorara ao longo de quinze anos lutando para chegar ao topo dizia que aquilo era um erro.

Mas algo a manteve naquela cadeira, observando os flocos de neve se acumularem no parapeito da janela, ouvindo o zumbido baixo da conversa e a explosão ocasional de risadas da cabine do canto, onde uma família celebrava algo. Um aniversário, talvez, ou apenas o fato de estarem juntos.

Clare verificou o telefone novamente. 47 minutos. Quarenta e sete minutos de sua vida que ela nunca recuperaria. Sentada em um café que provavelmente nem sabia o nome dela, esperando por um homem que ela nunca conhecera.

E então, ele a viu.

Ele parecia exatamente alguém que havia lutado contra o inferno para chegar até ali. Sua jaqueta estava encharcada, agarrada aos ombros em manchas escuras. Seus jeans estavam salpicados com algo — lama, talvez, ou a neve suja da calçada. Seu cabelo, escuro e ligeiramente comprido demais para os padrões corporativos, estava grudado na testa. Ele parou na porta por um momento, examinando o local.

E quando seus olhos encontraram os dela, Clare viu algo que não esperava. Alívio. Puro e desprotegido alívio.

Ele atravessou o café em passadas rápidas. E Clare notou a maneira como as pessoas olhavam para ele: não com admiração, mas com uma espécie de curiosidade intrigada. Ele não pertencia àquele lugar. Não naquele café com seus doces artesanais e lattes de leite de aveia. Não no mundo dela.

— Sinto muito — disse ele, e sua voz era mais áspera do que ela imaginara. Mais grave, como se ele estivesse gritando ou chorando, ou ambos. — Eu sou o David. Eu… minha filha estava doente. Eu não consegui…

Ele parou no meio da frase, como se percebesse que ainda estava pingando água no chão de madeira nobre.

Clare se levantou. Ela estava de salto alto, o que a deixava quase na altura dos olhos dele. De perto, ela podia ver a exaustão gravada nos cantos dos olhos dele, as linhas finas de preocupação que a foto de Margaret não mostrara. Ele cheirava levemente a antisséptico e a algo mais… lavanda. Talvez sabonete infantil.

— Está tudo bem — disse Clare, e sua voz saiu mais fria do que ela pretendia. Profissional, protegida. — Eu entendo.

O olhar de David caiu para as duas xícaras de café na mesa, depois voltou para o rosto dela. — Você esperou. — Eu esperei. — Por quê?

A pergunta a pegou desprevenida. Era direta demais, honesta demais para um primeiro encontro. A maioria das pessoas teria rido ou feito alguma piada sobre não ter nada melhor para fazer, mas David apenas ficou ali, com a água empoçando ao redor de suas botas de trabalho, esperando por uma resposta.

Clare sentou-se novamente. — Eu não sei.

Ele puxou a cadeira à frente dela, movendo-se com cuidado, como se tivesse medo de ocupar muito espaço ou sujar o estofado. O barista apareceu com uma toalha limpa, que David aceitou com um “obrigado” quieto que parecia vir do fundo da alma. Ele secou o rosto, as mãos, a nuca. Seus dedos eram calejados, Clare notou. Mãos de quem trabalhava pesado. Havia cortes pequenos e curados nos nós dos dedos.

— Como está sua filha? — Clare perguntou, porque parecia a coisa certa a dizer. — Ela está bem. Teve febre alta, quase quarenta graus. Mas baixou há cerca de uma hora. Ela está em casa agora, com a vizinha olhando. — Dormindo? — Espero que sim. — David dobrou a toalha e a colocou na beirada da mesa. — Tentei te mandar uma mensagem. O sinal na sala de espera do pronto-socorro é terrível. — Você estava no hospital? — Sim. — David pegou o cardápio, colocou-o na mesa novamente. Suas mãos tremiam levemente. — Pensei em cancelar, mas Emma… essa é minha filha. Ela me disse que eu deveria vir. Ela disse: “Papai, você tem que ir. Ela pode ser legal.”

— Eu sou? — Clare perguntou antes que pudesse se conter.

David olhou para ela então — realmente olhou para ela. E Clare sentiu todo o peso da atenção dele. Não era invasivo ou presunçoso. Era cuidadoso, atencioso, como se ele estivesse tentando ver além do casaco de grife e do cabelo perfeito, buscando o que quer que estivesse por baixo daquela armadura.

— Eu não sei ainda — disse ele finalmente, um leve sorriso surgindo no canto da boca. — Mas você esperou. Então, talvez…

O casal na mesa ao lado levantou-se para sair e, no breve silêncio que se seguiu, Clare tornou-se consciente de quão alto seu próprio coração parecia bater. Ela alcançou seu café, o segundo, ainda morno, e tomou um gole. Estava doce demais. O barista havia adicionado açúcar sem perguntar. Ela bebeu mesmo assim.

— A Margaret disse que você é encanador — disse Clare. — Sou. Você se importa? — Não. — Ela fez uma pausa. — Você gosta? A boca de David se contraiu. — Paga as contas. Mantém a Emma alimentada. O seguro saúde do sindicato é bom. — Isso é o que importa. — Não foi o que eu perguntei.

Ele recostou-se na cadeira e, pela primeira vez desde que entrara, parte da tensão pareceu deixar seus ombros. — Não, não é o que eu escolheria se tivesse escolha. Mas faço bem feito, e as pessoas precisam de mim, então isso conta para alguma coisa.

Clare pensou em seu próprio trabalho: as reuniões do conselho, as aquisições, as intermináveis sessões de estratégia onde ela movia dinheiro como peças em um tabuleiro de xadrez. As pessoas precisavam dela, ou apenas precisavam do que ela podia fazer por elas?

— O que você escolheria? — ela perguntou. — Se tivesse escolha.

David ficou quieto por um longo momento. Do lado de fora, a neve caía com mais força agora, borrando as luzes da cidade em halos suaves. — Eu costumava ser arquiteto — disse ele finalmente. — Projetava casas. Construções personalizadas, sustentáveis. Eu gostava da ideia de criar espaços onde as pessoas pudessem ser felizes. — Por que parou? — Minha esposa ficou doente. — A voz dele não mudou, mas Clare viu o maxilar dele endurecer. — Câncer. Foi agressivo. O plano de saúde não cobria tudo. Quando ela se foi, eu tinha dívidas médicas que teriam nos enterrado por duas vidas. Encanamento paga melhor e mais rápido do que arquitetura em nível inicial ou freelancer, e eu podia começar imediatamente e fazer horas extras. Então, eu fiz.

Clare pousou a xícara com cuidado. O silêncio que se seguiu não era desconfortável, era reverente. — Sinto muito. — Não sinta. Foi há três anos. Estamos bem agora, Emma e eu. — Ele disse isso como se estivesse tentando convencer a si mesmo tanto quanto a ela.

O barista passou novamente, desta vez com um bloco de notas. David pediu água. Apenas água. Clare viu a maneira como os olhos dele pularam sobre o cardápio, evitando os preços dos sanduíches artesanais de dezoito dólares, e algo em seu peito apertou.

— Peça algo para comer — disse ela. — Por favor, estou bem. — David. — Ela esperou até que ele olhasse para ela. O tom de voz dela era o mesmo que usava para fechar contratos de milhões, firme, mas não indelicado. — Peça algo para comer. Por minha conta.

Ele hesitou, o orgulho batalhando com a fome visível em seu rosto. Finalmente, ele assentiu e pediu um sanduíche de peru com queijo suíço, a coisa mais barata do cardápio.

Quando o barista saiu, Clare sentiu o peso do silêncio entre eles. Pesado, estranho e assustadoramente íntimo, tudo ao mesmo tempo.

— Você não precisava fazer isso — disse David. — Eu sei. — Eu posso pagar por mim mesmo. — Eu sei disso também.

Ele a estudou por um momento. E Clare teve a sensação inquietante de que ele podia ver através de cada defesa que ela já construíra. — Por que você realmente esperou? — ele perguntou novamente.

Desta vez, Clare não tinha uma resposta rápida. Ela pensou nos últimos três meses, nos processos de divórcio, na cobertura vazia no centro da cidade, nas manhãs em que acordava e esquecia, apenas por um segundo, que não havia mais ninguém ao seu lado. Ela pensou na voz de Margaret ao telefone, gentil, mas firme. “Você precisa tentar, Clare. Apenas tente.”

— Eu acho… — Clare disse devagar, testando as palavras. — Eu acho que estava esperando que alguém esperasse por mim também.

David não disse nada. Ele apenas assentiu, como se entendesse exatamente o que ela queria dizer.

O telefone dele vibrou na mesa. Ele o pegou, olhou para a tela e todo o seu rosto suavizou. As linhas de tensão desapareceram. — É a Emma — disse ele, quase se desculpando. Ele deslizou o dedo para atender, e Clare ouviu uma vozinha rouca do outro lado. — Papai? — Oi, querida. Você está bem? — Sim, tomei o remédio que a Sra. Higgins deu. Quando você vem para casa? O polegar de David traçou a borda do telefone, um gesto de carinho à distância. — Logo. Muito em breve. — A moça é legal?

Clare sentiu a garganta apertar. Os olhos de David encontraram os dela e, por um momento, ela viu algo cru e desprotegido em sua expressão. — Muito legal — disse ele suavemente. — Que bom. Você merece alguém legal, papai.

Clare desviou o olhar, focando nas luzes de Natal lá fora, piscando em seu ritmo constante. Vermelho, dourado, verde. Vermelho, dourado, verde.

— Estarei em casa em breve, ok? Você precisa de alguma coisa? — Não. Só queria saber se você estava bem. — Estou bem, querida. Eu prometo. — Ok. Te amo. — Te amo também.

David encerrou a chamada e colocou o telefone com a tela para baixo na mesa. — Ela se preocupa comigo — disse David, eventualmente. — Ela tem sete anos e se preocupa comigo. Não é assim que deveria funcionar. — Ela te ama. — Eu sei. Mas às vezes acho que ela estaria melhor se eu pudesse dar mais a ela. Uma casa de verdade, com quintal, em vez de um apartamento de dois quartos num prédio antigo. Uma mãe que estivesse realmente lá, em vez de apenas uma memória que ela está começando a esquecer. — Ele parou, balançou a cabeça. — Desculpe. Você não assinou contrato para ouvir isso.

— Eu não assinei contrato para nada — Clare respondeu. — A Margaret disse que você era um bom pai. Ela não mencionou mais nada. — O que mais existe? — A pergunta pairou entre eles, simples e devastadora.

Clare pensou em todas as coisas que costumava acreditar que importavam. O escritório de canto, o salário de sete dígitos, os convites para bailes de gala e arrecadação de fundos, todos aqueles eventos brilhantes onde todos sorriam e ninguém era feliz.

— O que mais existe? — ela repetiu, baixinho.

O barista trouxe o sanduíche de David, e ele comeu devagar, metodicamente, como alguém que aprendeu a não desperdiçar comida. Clare o observou sem querer, notando a maneira como ele limpava a boca com o guardanapo a cada poucas mordidas. A maneira como ele disse “obrigado” quando o barista reabasteceu sua água. Pequenas coisas. Coisas comuns. Coisas que seu ex-marido havia parado de fazer em algum momento do caminho.

— Posso te perguntar uma coisa? — David disse, pousando o último pedaço do sanduíche. — Vá em frente. — Por que você está aqui? De verdade. Uma mulher como você… você poderia estar em qualquer lugar, fazendo qualquer coisa. Aspen, Paris, ou em alguma festa exclusiva. Por que um encontro às cegas com um encanador na véspera de Natal?

Clare considerou mentir. Seria fácil. Ela poderia dizer que estava entediada, ou curiosa, ou fazendo um favor a Margaret. Mas algo na maneira como David a olhava — paciente, aberto, sem julgamento — fazia a verdade parecer menos perigosa.

— Porque estou cansada de ficar sozinha — disse ela. — E estou cansada de fingir que não estou.

David assentiu lentamente. — É. Eu entendo isso. — Entende? — A Emma desenhou uma coisa para mim hoje de manhã. — Ele enfiou a mão no bolso da jaqueta e tirou um pedaço de papel dobrado, alisando-o cuidadosamente na mesa entre eles. — Ela queria que eu trouxesse. Para dar sorte.

Clare inclinou-se para frente. O desenho era simples, figuras de palito em giz de cera: um homem e uma mulher de mãos dadas, com sorrisos enormes. Acima deles, Emma havia escrito em letras trêmulas: “Papai e sua nova amiga. Feliz Natal.” Havia uma pequena mancha no canto, como se alguém tivesse chorado e tentado limpar.

— Ela quer que você seja feliz — disse Clare calmamente. — Ela quer que eu tenha o que ela não pode me dar. — A voz de David era firme, mas Clare ouviu a fratura por baixo dela. — Ela tem sete anos e acha que é trabalho dela me consertar.

A mão de Clare moveu-se antes que ela pudesse pensar, alcançando a mesa para tocar o pulso dele. Apenas brevemente, apenas o suficiente para ancorá-lo. — Você não está quebrado. David olhou para a mão dela, com unhas perfeitamente manicuradas, e depois para o rosto dela. — Como você sabe? — Porque pessoas quebradas não chegam quarenta e sete minutos atrasadas para um encontro às cegas e ainda pedem desculpas. Pessoas quebradas não atendem a filha no meio do jantar com essa gentileza.

Ele quase sorriu com isso. Quase.

— Eu deveria ir. A Sra. Higgins precisa ir para a casa dela, e não gosto de deixar Emma sozinha por muito tempo, mesmo quando ela está dormindo. — Eu entendo.

David levantou-se, puxou a carteira. Clare viu o couro gasto, as bordas desfiadas, a maneira cuidadosa como ele contou as notas de um dólar para o sanduíche. Ela quis dizer a ele para não se incomodar, que ela cuidaria disso, mas sabia — de alguma forma, ela sabia — que isso doeria mais do que ajudaria. Ele precisava pagar a parte dele. Era uma questão de dignidade.

— Obrigado por esperar — disse David. — Eu sei que provavelmente pareceu… — Não — Clare interrompeu gentilmente. — Não peça desculpas de novo. Você está aqui. Isso é o que importa.

Ele guardou o desenho de Emma no bolso, e Clare sentiu um impulso repentino e irracional. — Você tem planos para o resto da noite? — Só ir para casa ficar com a Emma. — Posso ir com você?

A pergunta surpreendeu a ambos. David piscou, e Clare sentiu o calor subir às suas bochechas, uma sensação que não experimentava há anos. — Eu não quero dizer… — ela começou, gaguejando. David levantou a mão. — Eu sei o que você quer dizer. — Ele hesitou, avaliando-a. — A Emma disse que queria fazer cookies hoje à noite. Ela provavelmente está muito doente para ajudar muito, mas… — Eu sei fazer cookies — mentiu Clare. Ela nunca tinha assado nada que não viesse de uma caixa pré-pronta. — Se você quiser… quer dizer, se não se importar com a bagunça… eu gostaria disso — disse David.

Eles saíram juntos para a neve, lado a lado, mas sem se tocar. E Clare sentiu algo mudar em seu peito. Não era certeza, não eram respostas, apenas o começo de uma pergunta que ela não sabia que precisava fazer.

O apartamento de David ficava a vinte minutos de ônibus do café. Clare seguiu-o para o ônibus número 47 sem hesitação, deixando seu carro de luxo estacionado onde estava. Eles sentaram-se perto do fundo, e através das janelas embaçadas, ela observou a cidade deslizar: vitrines fechadas, luzes de rua e o vislumbre ocasional de famílias reunidas em torno de mesas de jantar.

David não tentou preencher o silêncio com conversa fiada, e Clare foi grata por isso. Ela precisava do silêncio para processar o que estava fazendo: seguindo um estranho até a casa dele na véspera de Natal porque uma menina de sete anos havia feito um desenho e ela estava cansada de sua cobertura silenciosa.

O prédio era antigo, tijolos vermelhos escurecidos pela fuligem da cidade, com uma fileira de caixas de correio amassadas na porta da frente. O apartamento de David ficava no segundo andar, acessível apenas por escadas. Enquanto subiam, Clare notou a maneira como a madeira gemia sob seus pés e como o corredor cheirava a refogado de cebola vindo de algum vizinho.

Não era nada como o mundo dela. Era quente. Era vivo.

David destrancou a porta e entrou, e Clare o seguiu. O apartamento era pequeno: uma sala de estar que fluía para uma cozinha minúscula, um corredor curto. Havia uma árvore de Natal no canto, pequena e torta, com ornamentos caseiros pendurados em cada galho — flocos de neve de papel, renas de palito de picolé, uma estrela no topo feita de papel alumínio.

E no sofá, enrolada sob uma colcha de retalhos, estava Emma.

Ela era pequena para sete anos, com cabelos escuros espalhados pelo travesseiro. A TV estava ligada em volume baixo, algum desenho animado antigo, mas os olhos de Emma estavam fechados. David atravessou a sala e ajoelhou-se ao lado dela, pressionando as costas da mão na testa da filha. — Ainda está morninha — murmurou ele.

Ele ajustou o cobertor, e quando se levantou, sua expressão era mais suave do que Clare vira a noite toda. — Ela é linda — sussurrou Clare. — Ela se parece com a mãe — disse David calmamente. — O mesmo cabelo, o mesmo queixo teimoso.

Emma se mexeu, seus olhos se abrindo lentamente. Por um momento, ela pareceu confusa, e então viu David e sorriu — um sorriso sonolento e genuíno que fez o peito de Clare doer. — Papai… você voltou. — Voltei, querida. A Sra. Higgins já foi? — Foi agorinha. — O olhar de Emma mudou para Clare, e não houve timidez nele. Apenas curiosidade franca. — Você é a amiga do papai?

Clare aproximou-se, ajoelhando-se para ficar no nível de Emma, ignorando o que o chão poderia fazer com suas calças de alfaiataria. — Eu espero que sim. Sou a Clare. — Eu sou a Emma. — Ela tossiu, um som seco. — O papai te mostrou meu desenho? — Mostrou. É lindo. O sorriso de Emma se alargou. — Você gosta de cookies? — Eu adoro. — Que bom, porque o papai disse que podíamos fazer alguns hoje à noite.

Ela olhou para David, desculpando-se com os olhos. — Desculpa, papai. Acho que não consigo levantar muito. — Ei — David sentou-se na beirada do sofá, afastando o cabelo do rosto de Emma. — Você não pede desculpas por estar doente. Vamos fazer os cookies outra hora. — Mas é véspera de Natal! — O lábio inferior de Emma tremeu.

— E se… — Clare disse, voltando-se para eles. — E se fizéssemos os cookies aqui? Eu e seu pai fazemos o trabalho pesado na cozinha, e você nos dá as ordens daqui do sofá. Você é a chefe de cozinha.

Os olhos de Emma brilharam. David olhou para Clare como se ela tivesse acabado de lhe oferecer o mundo. — Você não precisa fazer isso — ele começou. — Eu quero — disse Clare. E ela queria.

Eles fizeram cookies.

A cozinha era tão pequena que eles esbarravam um no outro constantemente. David media, Clare misturava. Emma gritava instruções do sofá: “Mais gotas de chocolate! Não esquece a baunilha!”. Clare acabou com farinha na blusa de seda preta e manteiga na manga. David tinha uma mancha branca na bochecha. E, em algum momento, entre quebrar ovos e untar formas, Clare riu. Uma risada real, profunda, que a surpreendeu.

Quando a primeira fornada saiu, os cookies estavam deformados e ligeiramente queimados nas bordas, mas o cheiro de chocolate derretido e açúcar preencheu o pequeno apartamento como um abraço. David levou um para Emma em um pratinho, e ela deu uma pequena mordida antes de estendê-lo para Clare.

— Prova — insistiu Emma.

Clare mordeu. Estava muito doce, e a textura não era perfeita. Foi a melhor coisa que ela comeu em anos.

— E então? — perguntou Emma. — Perfeito — disse Clare.

Emma sorriu, radiante. Ela olhou para David, depois para Clare, e algo em sua expressão mudou, tornando-se sério. — A Clare pode ficar para o Natal?

David congelou. Clare sentiu o coração pular uma batida. — Emma — disse David gentilmente. — A Clare provavelmente tem planos. Ela tem a família dela, a casa dela. — Eu não tenho — Clare interrompeu. A verdade saiu antes que ela pudesse polir. — Eu não tenho planos.

Ela olhou para David. — Se não for incômodo… eu gostaria de ficar.

David olhou para a filha, cujos olhos estavam cheios de esperança, e depois para Clare. — Não é incômodo. Seria… seria bom.

Naquela noite, Clare dormiu no quarto de David, enquanto ele insistiu em ficar no sofá ao lado de Emma. Ele lhe emprestou uma camiseta velha para dormir, que cheirava a sabão em pó e a ele. Clare deitou-se na cama de um estranho, ouvindo os sons de um prédio antigo e desconhecido, e pela primeira vez em meses, adormeceu sem precisar de um comprimido.

Quando ela acordou, a luz do sol entrava pela janela, refletindo na neve lá fora. Havia o cheiro de café forte no ar.

Emma estava sentada no chão perto da árvore, ainda de pijama, com os olhos brilhantes de excitação, a febre aparentemente tendo cedido durante a noite. — Clare! Papai! O Papai Noel veio!

Clare sentou-se no sofá, esfregando os olhos. David estava na cozinha, despejando café em três canecas — uma com leite para Emma. Ele sorriu para Clare, um sorriso cansado mas feliz. — Feliz Natal.

Havia poucos presentes sob a árvore. Embrulhos simples, feitos com jornal e barbante. Emma entregou um pequeno pacote para Clare. — Esse é para você. Eu fiz ontem, antes de vocês chegarem, mas o papai embrulhou.

As mãos de Clare tremeram ao desembrulhar. Dentro havia um ornamento de massa de sal, pintado desajeitadamente, em forma de coração. Atrás, estava escrito: “Para quem vier.”

Clare olhou para Emma, confusa. — Eu fiz para quem o papai trouxesse — explicou Emma. — Eu sabia que alguém viria.

Clare não conseguiu falar. Ela apenas segurou o ornamento e chorou. Lágrimas silenciosas que escorriam por seu rosto sem permissão. E Emma engatinhou para o colo dela, braços pequenos envolvendo seu pescoço. — Não fica triste — sussurrou Emma. — É Natal. — Não estou triste — conseguiu dizer Clare. — Estou feliz.

David sentou-se ao lado delas no tapete gasto. Ele não disse nada, apenas colocou a mão no ombro de Clare, um toque sólido e quente.

Mais tarde naquele dia, o telefone de Clare tocou. Era Margaret. — Onde você está? — Margaret exigiu. — Estou te ligando há dois dias. — Estou com o David. Silêncio. — Você ainda está com ele? O encontro foi há dois dias. — Eu sei. — E você passou o Natal lá? Num apartamento de encanador? Clare olhou para a sala. David estava ajudando Emma a montar um quebra-cabeça no chão. A luz da tarde dourava a poeira que dançava no ar. — Sim, Margaret. Passei. — Como você se sente? Clare respirou fundo. — Real. Eu me sinto real. Margaret riu do outro lado da linha. — Então fique aí. Fique o tempo que precisar.

E ela ficou.

Não para sempre, não imediatamente. Havia uma empresa para administrar, um divórcio para finalizar, uma vida para reorganizar. Mas naquela noite de Natal, e nos dias que se seguiram, Clare começou a desmontar a fortaleza que havia construído ao redor de si mesma.

Três meses depois, ela venderia a cobertura. David projetaria a reforma da nova casa deles — uma casa antiga no subúrbio, com um quintal grande o suficiente para uma menina de sete anos correr e uma cozinha grande o suficiente para assar cookies sem esbarrar nos cotovelos, embora eles gostassem de esbarrar de vez em quando.

Mas tudo isso viria depois.

Por enquanto, naquela sala iluminada pela árvore de Natal torta, Clare Montgomery encostou a cabeça no ombro do encanador que chegara atrasado. Emma adormeceu entre eles, segurando a mão de Clare. Lá fora, o mundo continuava girando, frio e implacável. Mas ali dentro, três pessoas que estiveram sozinhas encontraram um abrigo improvável umas nas outras. E decidiram que, por hoje — e talvez por todos os amanhãs que viriam —, aquilo era o suficiente.